Gabrielle Alves
Um presente que define uma trajetória dentro das arquibancadas: uma blusa do Ceará Esporte Clube, time do avô, padrinho e pai. Gestos como esse marcaram a infância de Gabrielle Alves, de 20 anos, que desde cedo foi inserida no mundo do futebol, incentivada pelo amor que sua família sempre demonstrou pelo esporte, dentro e fora das arquibancadas. Nascia, assim, uma torcedora apaixonada e fiel ao seu time do peito.
Gabriele relata que o acolhimento e a segurança dentro de casa lhe permitia se sentir confortável para expressar sua paixão pelo esporte. Porém, a torcedora logo percebeu que as pessoas nem sempre são tão acolhedoras quanto sua família é. Ela conta que passou sua vida inteira, principalmente sua infância, sendo descredibilizada em roda de conversas por ser uma mulher falando sobre um esporte considerado para homens.
“Se eu entrasse na roda e começasse a falar (sobre futebol), a minha opinião, para algumas pessoas, não valia, porque era a opinião de uma mulher”, diz.
A estudante fala que a descredibilização não se limita apenas a rodas de conversas, mas também se propaga nas redes sociais. Ela diz que possui o costume de comentar em páginas sobre o seu time e que já houveram vezes em que homens fizeram comentários
desrespeitosos em seus posts. “ Eu tenho muito costume de comentar em páginas sobre o meu time. Tanto páginas de humor, quanto páginas mais sérias que trazem informação de contratação. Eu comentava várias vezes e já tiveram casos de um cara falar coisas extremamente desrespeitosas no meu comentário. (...) Você acaba ficando constrangida. Você fica: “Poxa, eu estou aqui me envolvendo na conversa e a pessoa fica zombando!””, compartilha.
Gabrielle ainda fala sobre o sentimento de insegurança ao frequentar as arquibancadas para assistir o time que tanto admira. “É um ambiente onde a maioria é homem e eu não me sinto segura em vários aspectos, vários âmbitos. Então, a regra clara que eu tenho na minha cabeça, e que eu digo para as minha amigas que vão me acompanhar, sempre é essa:
“Ninguém vai sozinha pra canto nenhum””, afirma.
Ela também relata que não é incomum ouvir histórias de mulheres vítimas de assédio dentro dos estádios e que a maioria, por medo e desestímulos, não denunciam a violência para as autoridades.
A torcedora conta que a esfera heteronormativa que envolve o mundo do futebol já fez com que ela se questiona-se se esse espaço era realmente ideal para ela. Mas, apesar disso, ela afirma que nunca desistiu de falar sobre sua paixão pelo esporte e pelo Ceará Esporte Clube. Gabrielle relata que uma experiência marcante foi assistir presencialmente ao primeiro jogo da final da Copa do Nordeste. Ela diz que além de ver o seu time ganhar, ela pôde presenciar o real espírito do esporte, como espaço de união e não violência .
“Foi muito bonito ver a paixão do torcedor. Tem gente que não entende a paixão de alguém por futebol, do mesmo jeito que tem gente que não entende a paixão de alguém por um artista. Então, foi uma coisa muito bonita de se ver. Pessoas unidas com o mesmo propósito: torcer e apoiar o time", conclui.