Rafael Yago
As bandeirinhas penduradas no alto da rua davam ares de São João. O retumbar da bateria e a melodia do pagode preenchiam os ouvidos e o coração. A euforia da torcida se espalhava pela rua, colorindo-a com as cores branco, vermelho e azul.
Essas são as memórias da festa que definiu o time que Rafael Yago, de 32 anos, acompanharia com fervor e devoção. Gay e torcedor ferrenho do Fortaleza, o estudante de arquitetura e consultor financeiro conta que não gostava muito de futebol quando criança, mas que devido ao convívio com outras pessoas que acompanhavam o esporte, acabou pegando gosto pela coisa.
No entanto, devido a esfera heterossexual, masculina e cisgênera que envolve o futebol, Rafael diz que após se assumir gay as coisas ficaram mais difíceis. O estudante relembra os dias que assistia futebol pela tv e não se identificava com os “vários homens padrões sentados numa mesa, com cerveja, um samba tocando no fundo e as mulheres semi nuas”. Apontando a falta de representatividade no esporte, ele também fala sobre a dificuldade do futebol de acolher o público LGBTQIA+.
Apesar da paixão pelo time, sua orientação sexual é tabu ainda longe de ser superado no meio futebolístico. Sócio-torcedor, Rafael sempre que possível assiste os jogos no estádio, mesmo que muitas das vezes não se sinta seguro dentro da torcida que faz parte.
“As vezes eu não deixo nem as pessoas perceberem que eu sou gay pra evitar piadinhas, brincadeiras”
Xingamentos, cânticos e apelidos lgbtfóbicos foram normalizados e relevados, sendo constantemente entoados nas arquibancadas e nas mesas de barzinhos no intuito de ofender adversários, jogadores, árbitros e comissão técnica. Rafael afirma que escutar essas agressões é a pior parte dos jogos. “Essa é a hora que você perde totalmente o gosto de estar ali. É a hora que você perde o brilho, fica calado, você não interage.”
O torcedor também afirma que crimes como racismo e lgbtfobia são tratados com pesos diferentes, sendo o empenho no combate do preconceito racial pelos clubes mais forte que o combate do preconceito contra a comunidade LGBTQIA+. Ele diz que a ineficiência na condenação de práticas lgbtfóbicas se dá em parte devido ao medo das pessoas serem taxadas como gays. “Hoje você vê brancos e negros juntos combatendo o racismo. A lgbtfobia, a maioria são os próprios LGBT por eles mesmo.”
Rafael acredita que a punição da torcida e a perda de pontos pelo time não são a melhor forma de se combater as práticas lgbtfóbicas no futebol. Pode ser que se tenha algum resultado, no entanto a raiva desencadeada na torcida pela aplicação das penalidades pode se voltar justamente para o público LGBTQIA+. Ele afirma que a reeducação e a implementação de campanhas de conscientização com a participação dos jogadores, técnicos e treinadores levem a torcida a repensar em seu comportamento.
“São os ídolos deles que estão mostrando a eles que eles podem ser grandes, podem ser jogadores, podem ser vencedores sem ser homofóbicos."