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Lívia Rodrigues

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O contato com o mundo do futebol veio até ela desde muito cedo. O pai, figura de grande influência em sua vida, lhe mostrou a emoção e a alegria que o verbo “torcer” representava. Surgia aí uma grande admiradora e torcedora ferrenha do Ceará.

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Lívia, de 27 anos, conta que o que poderia ser apenas uma paixão de infância, a seguiu até a vida adulta. Trilhando os mesmos caminhos que seu pai, a mestranda diz que tanto ela quanto parte de sua família não largam o time alvinegro do peito. “Desde pequena, meu pai torce para o Ceará. Ele meio que já foi “doutrinando” a família a torcer pro Ceará também, então desde pequenininha eu tive contato”, conta. 

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Apesar de toda empolgação que assistir seu time favorito jogando nos estádios pode lhe causar, Lívia afirma que esse meio esportivo pode ser bastante cruel com as mulheres. Mesmo estando em um lugar público como um estádio de futebol - espaço este que deveria ser palco de alegria e união - casos de assédio cometidos por homens contra mulheres acontecem cada vez mais.

 

“Quando você vai pra um jogo no Castelão ou no PV, você já se sente meio intimidada, principalmente se você for sozinha (...). Você se sente intimidada de chegar num local onde a maioria é composta por homens, né?”, compartilha Lívia. 

Além do assédio, a torcedora diz que tanto ela quanto suas amigas, temem sofrer outros tipos de agressão nesse ambiente. “Você estar passando com a sua blusa de time e sofrer piadinhas, ou ter medo de apanhar na rua pelo time rival, entende? Principalmente aqui no nosso estado, que tem essa questão dos clássicos reis: a rivalidade entre o Ceará e o Fortaleza, que é muito grande”, diz.

 

No ano de 2022, o clube do Ceará foi punido devido a uma briga generalizada que se deu após o empate contra o time do Cuiabá na 32ª rodada do Campeonato Brasileiro, tendo que realizar as três primeiras partidas da Série B com portões fechados e outros três jogos abertos apenas para mulheres, crianças e pessoas com deficiências (PCD). 

 

Lívia conta que a experiência de ir ao jogo onde a arquibancada era majoritariamente composta por mulheres foi o momento onde se sentiu mais segura e à vontade. “O jogo terminou super tarde (...) e eu não me senti insegura de estar andando ali sozinha. Porque só tinham mulheres. O jogo só tinha mulheres, crianças e pcd’s e foi muito tranquilo. Não teve cadeira sendo arrancada, não teve estresse, sabe? Foi uma coisa muito tranquila, tanto na entrada quanto na saída”, relata.

 

Lívia também compartilha uma situação de assédio que viveu em uma partida do Ceará. “Eu tenho o costume de usar roupas mais curtas e passando por torcedores do meu time, por torcedores do Ceará, uma “criatura” passou a mão na minha bunda”, relata.

 

A mestranda ainda conta que pessoas que a acompanhavam diminuíram a gravidade da situação, o que a fez sentir invalidada. “Apesar de algumas pessoas que estavam comigo terem dito “Ah, foi só isso?”, aquilo me causou um sentimento ruim. (...) Isso aconteceu uma única vez, mas pra mim foi o ápice. Eu passei muito tempo fora dos estádios por conta disso. Voltei apenas agora, nesse jogo com o público feminino”, compartilha. Devido ao choque da situação, Lívia não tomou as medidas cabíveis na época.

 

Apesar do infeliz acontecimento, Lívia afirma que não deixará de frequentar estádios e encoraja outras torcedoras a ocuparem as arquibancadas.

 

“Lugar de mulher é onde ela quiser"

 

"(...) A gente nunca deve aceitar situações que não nos favorecem. Precisamos estar sempre indo à luta, mesmo que seja por situações que as pessoas considerem pequenas”, enfatiza.

Confira a entrevista completa:
00:00 / 12:23
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